quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Nolan)


O Som e a Fúria

Debaixo dos meus dedos acumulo as palavras dos longos segredos de um mundo que os grita e ninguém ouve. Seria de esperar algo mais que o martírio continuo de ver o brilho de uma parede ser tanto ou mais interessante do que ver algo com luz e imagem mas sem forma ou eco. Não ver seria ainda melhor. Se um dia alguém se inspirou na expectativa de fazer alguma coisa, não disse nem mais uma palavra, e apenas fez, foi considerado lunático e de certeza arrogante. Quando chegamos à conclusão que nada é valorizável para além da morte, pensamos que nada interessa. Se nada interessa não se vive. Mas, qual montanha que vem atrás de um velho lunático que andou às voltas num deserto e que falava com árvores em chamas, aparece a felicidade e pensamos fazer de nós um riso alegre. A vontade deixou de existir, o estímulo é constante, o tempo para pensar é nenhum, a definição já está dada, não fosse sempre o normal a maioria. Se fosse feliz como um macaco não me aperceberia que ser um homem que pensa que ser feliz como um macaco é bom é tão espectacular como o próprio macaco. Ao pé disto, o facto de a única tipa que aparece no filme do Tintim ser uma representação um pouco abjecta de uma cantora de ópera que só serve para partir cristal nem sequer interessa.

Para que falar mais se o discurso já se esgotou? Para criar um novo, dizer algo mais. Faulkner já disse algo parecido ao seguinte, fomos criados num mundo de adultos demasiado velhos para perceberem que são lunáticos. Se querem construir algo por cima disto não venham a pensar que o que existe neste momento é normal ou que sequer faz algum sentido. Não faz sentido eu não conseguir ir ao cinema porque não há lá um único filme que não tenha sido pago a peso de ouro para defecar diamantes. Não faz sentido o Faulkner ficar sentado na prateleira e o Paulo Coelho e outros inomináveis venderem como as camisolas da lacoste dos ciganos em dia de feira. Faria mais sentido que os próprios ciganos os vendessem como sendo uma óbvia imitação rasca de má qualidade, em vez de serem mais baratos tinham o dom de ser culturalmente inócuos e legíveis sem existirem dificuldades de interpretação ou aparecimento de dores de cabeça do viajante literário. Continua sem fazer sentido que as pessoas menos talentosas e que menos sabem de música sejam as que mais vendem, sem nunca terem composto um único compasso. Na feira também vendem screeners das próximas estreias esperadas, e pouco será dizer que se um filme estiver a ser vendido ao monte, a dois euros a peça ao lado das meias (ligeiramente mais caras), não haverá maneira nenhuma de poder ser bom. Explicar mais que isto era inútil. Mas o exercício verdadeiro vem a seguir, pensem no melhor filme que já viram a ser vendido por este método. Agora comparem este a todos os outros aos quais se pode equiparar ou que até consigam comparar sem parecer um insulto completo. Peguem nisto tudo e vão conseguir uma óptima lista de toda a inutilidade e lixo, concentremo-nos agora no que está acima disso.

Desde o início, os primórdios do cinema, havia uma obsessão constante de tornar o que se via realidade. Por isso nasceu o filme falado, o cinema a cores, os efeitos especiais, o que chama CG ou seja lá o que for. Agora há um movimento inverso, a percepção de que a realidade cinematográfica também é um factor limitante. Não estou a falar sobre a ficção científica ou desse tipo de não realidade, mas na ideia de sermos convencidos que aquele cenário é uma realidade para os personagens (ao contrário de uma obra de teatro, em que o cenário não é credível nem o pretende ser). Isso é algo que levou o cinema para o pior caminho possível, e será esta, sem sombra de dúvida, a raiz de todos os problemas. Dizermos que o cinema nos tem que levar para outro mundo completamente credível. Forma-se aqui a exigência fundamental deste tipo de projecto, é preciso uma enorme montanha de dinheiro para fazer com que tal seja possível. O raciocínio seguinte é muito simples, como não há poços sem fundo, o que pagamos para o fazer tem que ser retribuído de alguma maneira. A ambição constante de querer mais e melhor cinema, de querer fazer imagem e som como se faz a imagem e o som quando vemos e ouvimos levou a que se conseguisse o completo contrário, o comprometimento da ideia, para fazer algo que fosse mais agradável e que cativasse o maior número de pessoas, para poderem pagar tal coisa. Quando se abdica do essencial para agradar ao mundo, perde-se a identidade, perde-se a ideia, perde-se por completo a relevância. Porque nada feito para agradar poderá ser bom, pela simples razão de que a única maneira de fazer algo que agrade a toda a gente é fazer algo tão inócuo que não contrarie ninguém, algo tão pouco surpreendente que não possa chocar ninguém, algo tão simples que não confunda ninguém (porque ainda há os que fingem que confundem), algo tão animado que não adormeça ninguém, ou seja, algo tão igual ao que as pessoas estão habituadas que nem vale a pena existir. A existência de uma identidade sem uma ideia basal que seja nova pode ser avaliada como o que agora os críticos gostam muito de dizer “é um grande filme dentro do seu género”. Primeiro, a ideia de que um filme pode ser bom, mesmo que seja uma repetição quase integral daquilo que já foi feito, é uma ideia estranhíssima para mim. Ainda mais que isso, a incapacidade de o filme ter algo de novo e a incapacidade de o crítico o dizer são ambos crimes contra a cultura, um por desperdiçar dinheiro, outro por recomendar um desperdício de vida. Seguidamente e em segundo lugar, foi esta ideia de que a repetição de uma fórmula de sucesso consegue ser muito rentável que levou o cinema à desgraça de se fazerem filmes com o único objectivo de serem vendidos, sem importar a arte ou a originalidade que supostamente a rentabilidade ia sustentando. A demolição da última barreira surgiu agora, depois de já ter aparecido o bendito Spielberg e o remake constante chamado Blockbuster, depois de já terem feito tudo o que era possível com o mesmo diálogo, as mesmas piadas e os mesmos clichés mil vezes, apareceu um homem que até começou com um filme razoável, mas que agora se tornou o salva-vidas de toda a gente que gosta de filmes que fazem muito dinheiro mas acha que até tem um gosto cinematográfico requintado e gosta de intelectualizar a ideia do bom cinema. Este homem é Nolan, e resume-se numa frase: “é muito bom naquilo que faz, mas o que ele faz são filmes completamente banais”. E carregando já o crucifixo às costas, a verdade é que por muito prazer que vos dê ver filmes deste homem, ele não tem o dom de ser relevante, não faz coisas que sejam novas ou já que não tenham sido feitas mil vezes melhor antes. Seja um Thriller ou uma história sobre super heróis, a maior parte do que está lá são sequencias de acção mil vezes repetidas, argumentos e diálogos canonicamente guiados, e alguma pseudo-actividade ligeiramente intelectual, que nalguns momentos parece transparecer, mas até o Matrix enganou melhor com essa léria toda da pseudo-filosofia humana (não me interessa se o rapaz é travesti ou não, só por transcender a sua existência de homem não se transforma em metafísica). O meu único pedido é que se sabem o que é bom façam ganhar dinheiro a quem faça coisas boas. Se um homem faz coisas más deixa de as fazer a partir do momento que deixa de ganhar dinheiro por elas. Se um homem ganhar o prémio Nobel comprem um livro dele e leiam, se virem um bom filme comprem o DVD, deixem o hedonismo da idiotice para depois de morrerem.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Sofia Coppola)


Erudição Misógina

Adiam-se as forças, adiam-se as vontades, adia-se a vida. Esta é mais ou menos a maneira contemporânea de viver. Uma atitude que nos leva a não reconhecer erros nos paradigmas que nos são apresentados. Mas começar uma nova temporada de morte assim até sabe mal. Por isso há que dizer para quem quiser ler, sendo o cinema algo de mundialmente aceite, é o mais poderoso perpetuador da misoginia. E eu estou a incluir a própria igreja católica nos meus cálculos conceptuais. Pelo simples facto de esta última ser um meio de vida cada vez menos aceite e a partes largas ignorado pela larga maioria dos próprios católicos. Seria fácil dizer-vos isto e pouco mais, mas escrever apenas um parágrafo é algo de muita preguiça.


É factual que a maioria dos filmes é protagonizada por homens, mas isso é dizer pouco. Passemos apenas àquela maquia protagonizada por mulheres, e já aqui ficamos sem a larga maioria dos melhores filmes de sempre. Só dando o exemplo dos filmes do Stanley Kubrick, estes são quase exclusivamente sobre homens e como eles dominam mal o mundo e quando mete mulheres é só com o pretexto de uma obsessão sexual. Começando pelo clássico, quando antigamente tínhamos uma mulher como actriz principal era sempre uma princesa à espera do príncipe encantado, seja ele figurativo ou não. O paradigma deste tipo de filmes é o clássico da Disney, onde a mulher é retratada como algo indefeso que precisa de ser protegido e salvo com a sua meia-laranja de colans para ficar bem. Isto é o que mostramos às nossas crianças, aquilo que lhe mostramos como filmes perfeitos e saudáveis. As raparigas de tenra idade adoram ver a pequena sereia e a bela adormecida e querem ser princesas como elas, e quem as pode culpar se é o que lhe ensinam a querer ser de pequenas? À que agradecer ao Walt o grande número de adolescentes à procura de um bom namorado robusto bastante mais velho. Ainda há uma grande tipologia de filmes mais actuais live action que exploram isto de uma maneira um pouco mais moderna, fazendo com que a miúda encontre um rapaz porreiro que faz algo estúpido, dá umas voltas com mais três ou quatro e depois volta ao original, o seu extremamente verdadeiro amor, e faz isto tudo sem perder a sua inocência original (há de facto que admirar a maneira como os argumentistas dão a volta às ideias). Não refiro o nome desses filmes por incapacidade de me lembrar dos nomes mas basta pensarem em meninas que com menos de vinte anos que andaram por aí a fazer filmes e às vezes também fazem música ou são presas por conduzir bêbadas ou são gémeas. Continuando a nossa odisseia, depois dos filmes onde a mulher é admiravelmente frágil e pura temos os filmes onde a mulher é demasiado estúpida para se livrar dos seus próprios problemas e fazer alguma coisa de jeito durante o filme inteiro (e aqui temos o grande Gone With the Wind onde resplandece o mais elaborado esquema do preconceito da mente feminina). Mas reparem que há exemplos extensos disto mesmo, com uma grande participação por parte do Almodôvar que ainda não conseguiu perdoar as mulheres por existirem, e até existem por parte do Manuel de Oliveira com o seu Singularidades de uma Rapariga Loura. E já nem falo de filmes para necrotizar o próprio cérebro como é o caso do tal diário da gorda que tinha dois amores. Mas para culminar o excelente percurso temos o mais actual personagem feminino, a cabra homicida. O óbvio motivo seria o de ter uma mulher bastante jeitosa a dar pontapés e disparar contra uns tipos, algo que foi levado a um outro nível com o Kill Bill. E mesmo neste a mulher não é retratada como uma heroína, mas como um ser que apenas vive para a vingança. E é esta a base para o pensamento cinematográfico sobre a mulher, que só é capaz de grandes feitos quando é levada por sentimentos extremos como o rapto ou morte do filho ou coisa parecida (Changeling, Dancer In the Dark, Belleville Rendez-Vous, Flightplan e aquele outro filme que mete alienígenas também com esta tipa que já disse que só faz papéis que satisfaçam o seu standard feminista), nunca como um herói com um sentido de dever. E este pensamento é tão primitivo como o próprio mundo e actualmente aceite, quando assim dito, como completamente errado.  Mas não é levado apenas neste sentido, tal como no Ran do grande Kurosawa, ela pode ser apenas um ardil manipulador que estraga todos os planos existentes e imagináveis, mas mais uma vez apenas por vingança.


Calma, ainda há esperança. Monster, duas lésbicas assassinas. Mary Poppins, como é uma ama tinha mesmo de ser mulher. Mary Reilly, sempre tão indefesa e cheia de pesadelos que até o ignóbil Mr. Hyde tem pena dela e a salva. Sister Act, mulher indefesa a fugir do ex-namorado super idiota (nunca percebi, nem quando era pequeno, era como será possível uma personagem destas ter estado com aquele tipo desde o início). Tomb Rider ou o Salt, uma desculpa para por uma gaja a dar pontapés e o último até tinha sido imaginado para o Brad Pitt. The Devil Wears Prada, bem se vais fazer um filme sobre mulheres no poder mais vale que meta roupa e coisas tais que elas saibam fazer. Princess Mononoke, selvagem e homicida que mesmo assim tem que ser salva por um homem. Natural Born Killers, cabra assassina mesmo vil que mesmo assim é salva pelo homem. Ghost In the Shell, até que é heroína mas afinal é um robô. Black Swam, mulher tão envolvida nos seus próprios problemas e tão estúpida que acaba por se matar. The Hours, epidemia da mulher indefesa, cheia de problemas e suicida repartida por três papeis diferentes (facilita bastante a vida de quem vê). Mrs. Doubtfire ou Tootsie, afinal é um homem. Todos os filmes onde a Marylin Monroe entrou, em que reencarna um papel de mulher indefesa que gosta de ir para a cama com muitas pessoas mas que é muito ingénua e inocente. La Vie en Rose, se vamos fazer um filme sobre uma mulher que fez alguma coisa da vida ao menos que seja biográfico, mesmo assim mais vale que esteja embriagada de homens e analgésicos. Até a Sofia Coppola resolveu fazer um filme onde as mulheres são todas suicidas porque estão cheias de problemas e são tão indefesas e agora até prefere fazer filmes sobre homens. Precious, mulher extremamente deformada com mais problemas psicológicos e mais indefesa que qualquer outra. Psycho, afinal morre e nem sequer é a personagem principal, de volta aos homens. Se começarmos com as séries então não acabamos mais, Nikita e V, uma desculpa para pontapés e uma cabra homicida. Até havia um manga japonês depois transformado em anime que exemplifica perfeitamente este problema de as mulheres sexis terem muitos problemas em não matar ninguém. Se alguém se de ao trabalho podem ir ver a primeira cena ao youtube, tenho a certeza que vão ficar maravilhados. Spirited Away e Fargo, bem, nestes acho que não tenho nada a dizer.


O salto ao próximo nível está próximo, a mulher como uma personagem principal é algo que ainda está a ser explorado e que vai surgir cada vez mais mas nunca pelo mainstream. O Trier é um explorador nato deste tipo de papéis e curiosamente é o único perseguido pelos grupos feministas que ainda não perceberam que politicamente incorrecto e misoginia são dois conceitos diferentes. Vendo o Anticristo, mesmo que seja uma sádica homicida é-o na exploração do papel da mulher moderna na sociedade onde ainda é interpretada como o pecado original. Mas não é isto que me interessa dizer-vos, o que eu espero que percebam é que quando alguém tenta fazer algo com qualidade sobre seja o que for é perseguido mas o que é mainstream nunca é. O porquê não existe a não ser pela cegueira de pensar que, ou não são filmes sérios (primeiro erro, porque todos os filmes são sérios na perpetuação do preconceito), ou porque é aquilo que estamos habituados a ver desde os primeiros passos com a Disney e agora a Dreamworks. O que eu quero dizer é que os grandes culpados por isto continuar a acontecer somos nós que continuamos a ver todos estes filmes e nem sequer nos apercebemos que isto acontece. Não questionamos os paradigmas que nos foram apresentados desde que nascemos, não percebemos que aquilo em que nós acreditamos, algo tão pequeno como igualdade entre sexos, é posto em causa todos os dias e de uma maneira tão sistemática que até nós acabamos por integrar este dogma no nosso pensamento de maneira inconsciente. A maioria das diferenças que achamos que existem entre homens e mulheres foram coisas que vimos no cinema desde que o primeiro atrasado no mundo disse que os homens são de Marte e as mulheres de Vénus. Este acto de não pensar e questionar é anti-humano mas não é, e nunca será, anti-natural.

PS: Existe um tipo de filme em que as mulheres são quase invariavelmente as personagens principais (salvaguardando excepções óbvias). A parte menos espectacular é que são os filmes pornográficos.

sábado, 30 de julho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Epílogo)


A Morte Morreu

A reprodução do salmão é fantástica. Os pais fertilizam os ovos espalhando esperma por toda a água em seu redor, as mães ficam à espera, ambos morrem e são comidos pelas crias. O salmão é hiper-moderno porque, além de renovar, recicla as gerações. Os salmões não tentam ser como os pais porque os conhecem mas porque são biologicamente comandados a tal.  Acho que a conclusão da história é por de mais evidente, se já leram as restantes mortes já a descobriram de certo. Não fica mal dizer, mesmo assim, que sendo nós pessoas de memória e não forçados, como o salmão, a reduzir a renovação de gerações a uma inutilidade teórica, que dizer o que já foi dito e fazer o que já foi feito é no mínimo gozar com o coitado do salmão. E eu até gosto de salmão, mesmo que seja um peixe gordo, porque eu não discrimino pela aparência. É a personalidade que conta, não o exterior, tal como nos filmes, ser atractivo ao olhar e ter efeitos especiais derivados da maquilhagem e do guarda-roupa não contam para nada.


Sentindo eu agora a necessidade de dizer alguma coisa que não confie apenas no poder da extensa ironia, vou fazer um pequeno apontamento de uma ideia que é sempre muito simples de perceber mas muito difícil de se pensar. Se alguém gostar de um filme não tem de pensar, qual rainha matemática, que o filme é bom. Este pequeno raciocínio que muito nos acompanha vem da simples falácia que é pensar que a nossa realidade se aproxima mais da verdade que a dos outros e que, por isso, o que nós gostamos é o que é realmente bom. Os agraciados são aqueles que gostam do que é bom. E como sabemos nós o que é bom ou mau? Nada mais do que esta pergunta assola tudo o que fala e portanto critica. É uma pergunta difícil de responder mas tem resposta. A resposta está em todas as páginas da humanidade, reside nas pessoas que são génios, e para as distinguirmos melhor devemos recuar um pouco, para nos afastarmos invariavelmente dos imbecis que os odeiam e rodeiam e que eventualmente desaparecem, não por não existirem mas porque já não é um tema actual o suficiente para ser discordado porque já faz parte de um dogma. Falarei então de Miguel de Cervantes, o autor do suposto primeiro romance moderno, inventor do conceito do anti-herói e, pessoalmente falando, progenitor de quase todos os artifícios de escrita hoje usados pelos grandes escritores, mas isso seria objecto de uma grande tese. Falando agora das novas gerações, os que mais se aproximam de Dom Quixote são invariavelmente os mais expeditos na arte, falando só do anti-herói, já foi usado por Gogol e Dovstoievski, por Flaubert, por Flannery O’Connor e Tom Wolfe, por Oscar Wilde, por Salman Rushdie e basicamente quase todo e qualquer romance que tenha ficado na história. Fazendo o exercício oposto, encontra os livros onde os heróis ainda são pessoas não-humanas como os de Dan Brown ou outros muitos que fazem com que ler já não seja um exercício de deleite mas um passatempo vazio. Passando à música, hoje em dia vê-se que o grande experimentalismo musical vem sempre do Jazz e que eventualmente todos aqueles que são os grandes músicos mais cedo ou mais tarde se aproximam do Jazz, na sua música e na sua maneira de ser. O improviso, a não obsessão com a composição e o aperfeiçoamento do som mas sim com o conteúdo. Todos os grandes músicos de Jazz hoje em dia se aproximam eventualmente de Miles Davis, homem que já foi muito odiado e até teve o descaramento de ir a concertos do Prince, mas digo-vos que se fosse para ouvir a “My Name Is Prince” ou a “Sexy Mother Fucker” também eu ia. Partindo para o cinema existe também um denominador comum aos grandes filmes, que reside na insistência de transmitir algo para além de uma simples história. Só na conjugação desta premissa com a grande fotografia e as grandes sequências é que se pode ter um grande filme. Os outros que são apenas parte serão sempre menores, e já exaustivamente enchi os meus textos de explicações para este facto.


Com todas estes sentidos conjuntos de palavras quero dizer que a genialidade se aproxima eventualmente uma à outra. Não é difícil encontrar os génios, aqueles que têm uma legião de idiotas contra e se afastam sempre dos cânones. Que nunca se conformam com o que já existe e procuram algo mais acima disso, assim é a evolução do pensamento. Não confundam, eu não quero dizer que são todos iguais, mas a matriz de que partem, os princípios básicos que os regem são os mesmos e as ideias que os acompanham têm também tendência para se aproximar, mas são na sua proximidade de uma diversidade imensurável. Não é portanto um padrão mas a negação à natureza de que o conhecimento é inútil. Eu admiro tudo o que transpire inteligência, o meu gosto sobre as coisas vai sempre contra quase todos, mas a minha reflexão sobre elas é compreensível, e pretendo com isto demonstrar o que para mim é evidente. O meu gosto coincide exactamente com esta busca, que é uma grande parte de mim próprio, defendo-a porque a considero correcta. Como é de conhecimento geral, algo fundamentado é verdade até prova em contrário e, como é contrário ao que normalmente se diz, tudo o que é arte é debatível e definido em melhor e pior independentemente do gosto de cada um. Para mim esta ideia é evidente, para vocês pode ser a maior estupidez ou ser incompreensível, para o mundo nem sequer interessa.

PS: A morte morreu mas volta para Setembro, talvez renovada e em novo formato. Este foi apenas um bom truque de propaganda.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Cameron)


Duas Andorinha, um Fio e um Coco

Por mim desistia de dizer qualquer coisa com sentido, faria longas frases sobre absolutamente nada, mas isto é uma crónica e não quero começar com confusões ideológicas. A minha assombração contínua de parecer repetitivo não desaparece. Mas isso depende sempre da vontade da escrita em transparecer algo diferente. Não há menor existência do que aquela que aspira a nada, e a maneira de o homem conseguir isso é através da repetição, mais que não seja da estupidez. Juntando tudo aquilo que tento fazer: transmitir uma ideia inteligível, explicá-la e torná-la aceitável e mudar uma ideia qualquer na cabeça da pessoa que o estiver a ler; chego à conclusão que escrevo para ninguém ou bastante perto disso (haverá excepções pouco mais estendidas que a proximidade do conhecimento pessoal, e mesmo aí tenho muitas duvidas em conseguir fazer admitir um novo conceito). Essa, parecendo que não, é a melhor coisa que me podia acontecer. Não preciso de ceder à ideia moderna de reciclar conceitos já expostos.


Agora a parte do cinema, vá. Falando de bom cinema, fico sempre mais que entusiasmado quando vejo algo que me faz ter de desistir de uma ideia minha. Algo que pensava ser verdade e não o é. Esse verdadeiro momento em que existe algo que ao contrário da nossa vontade nos faz desistir de ser casmurro. A evolução do conhecimento humano depende precisamente disto, não da dúvida que nos faz por uma hipótese na qual estamos completamente correctos, mas sim do erro absoluto e da mudança de paradigma. Aborrece-me a ideia de dizer porquê, não tem sentido eu fazê-lo e isto é por si só evidente. Mas também pensava que quanto a filmes a mediocridade fosse também evidente por si mesma, mas há quem insista em dissertar longamente sobre coisas indefensáveis. Aqui também se pode entender, erradamente, que tento reduzir a arte a uma ciência ao incluí-la num processo de busca e conhecimento. São ideias opostas, incompatíveis e pouco saudáveis de juntar. Já foi tentado na música, chamaram-lhe a música clássica, e por isso a maior parte dela é inaudível a não ser por hipocrisia derivada de pretensiosismo intelectual. Hoje em dia, o cinema pensado como uma fórmula científica traduz-se em Hollywood. Quanto à razão de isto ser e a felicidade que isto trás às pessoas já disse o suficiente. A mim a felicidade vem do momento em que existe algo de novo e mais interessante. Continuo a pensar que a ideia de um ser humano desperdiçar a sua vida com o nada devia ser crime. Continuo a pensar que são precisos padrões, algo que guie quem não tenha por onde se guiar. A ideia de que todas as ideias devem ser aceites é uma idiotice absoluta. A ideia de que cada um tem um domínio da realidade equivalente ao de outros é abusivamente errada. O indivíduo que se acha correcto quando tem ideias menores continua a ser o maior inimigo da cultura e a longo prazo daquilo que faz a humanidade algo que deve ser admirado com alguma proximidade. A felicidade devia ser algo a que devemos aspirar, mas não sacrifiquem a humanidade por isso. A minha alegria está em cada coisa que muda tudo, esse poder que na ciência tanto demora, consegue ser feito em noventa minutos de filme, toda esta possibilidade e vocês continuam a pagar para ir ver o Bay. A ideia de estar morto, um coelho gigante e outro com dentes bem pontiagudos, casamentos na ex-Jugoslávia, cavaleiros sem braços, a perseguição feita por um loiro que parte dedos e uiva, uma câmara tremida a filmar uma islandesa, ultra-violência com um fato que sempre quis usar em qualquer dia menos no carnaval, toda a parafernália que o Miike pôs no Ichi e me fez perceber que existe muito mais do que eu pensava que era possível incluir num filme de qualidade sem ser desnecessário… Pequenas coisas que levam algo mais que o mundo lá dentro.


Só em jeito de adenda e porque eu gosto de fazer três parágrafos vou fazer uma lista de algum do lixo cinematográfico absoluto que anda por aí (condicionada aos filmes que vi), disponibilizando-me a explicar o porque de cada uma das minhas escolhas, podendo até fazer uma morte da 7ª arte especial só para esse fim se assim quiserem. E faço-o porque ao contrário de quem já é mais entrado na vida ainda tenho idade para isto. A. I., Slumdog Millionaire, Lord of the Rings (a trilogia), os Harry Potter’s todos (até os últimos que ainda não vi), Terminator 2, Terminator 3, Cars, Avatar e as sequelas que ainda não saíram, Jurassic Park, 2 Indiana Jones que vi (porque já não me lembro se vi o terceiro), qualquer dos Transformers que admito não ter visto na integra, qualquer coisa com o Vin Diesel, uns tantos Super-Man, os X-Men todos, Wanted, War of the Worlds (2005), Minority Report, The Day After Tomorrow, Mission Impossible 2 (porque não consegui ver nem sequer 5 minutos do primeiro), Star Trek’s, qualquer um dos Blade, E. T., aquilo a que chamam hoje em dia “comédias românticas” (como The Sweetest Thing), os três últimos Star Wars que afinal são os primeiros (embora os outros não estejam assim tão longe), Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (o primeiro se safou-se daqui por muito pouco), Oceans não-sei-quantos, Die Hard’s, Spider-Man, Hulk, incontáveis James Bond, o Rocky e o Rambo, Planet of the Apes (2001), Independence Day, Wild Wild West, Man In Black (especialmente a sequela e desde já quero mostrar o meu desagrado na insistência do Will Smith andar sempre a ouvir o Songs In the Key of Life), Armaggedon

PS: Esta é uma muito pequena amostra, podia continuar mas não acabava. Para uma próxima ficará uma lista de filmes maus um pouco acima destes, obrigatoriamente muito mais divertida de fazer.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Malick)


O Surdo Som das Palmas Douradas 

Reconheço o devido mérito ao nada por existir, porque sempre será algo a opor-se à criação e algo em que pensar. Reconheço-o por ser sempre o contrário do que é conhecido e algo de que nos queremos afastar por natureza. Faz parte da natureza humana contrariar o nada. Por isso existe o instinto de sobrevivência. Por isso, mais uma vez, e mais lentamente quanto maior se torna o grupo, contrariamos este instinto. Criamos algo que nos permite dizer, racionalmente (porque afinal esta é a única arma humana), que há coisas mais importantes que a própria sobrevivência (algo sempre muito difícil de manter). E ainda mais uma vez, e de novo recorrendo à vontade imensa em contrariar, chegamos ao final do ciclo, onde chegamos de novo ao princípio e, com esperança, em posse de uma nova ideia. E é daqui que parte o dilema existencial, de uma maneira um pouco ingrata, a partir do conhecimento que nos permite ter consciência dela. Uma ironia das mais negras que pode existir.


Claro que não serão necessárias imagens em super slow motion da chama de um zippo para representar uma força que contrarie este princípio humano, mas de certeza que alguma ideia construtiva poderia surtir a partir desse pequeno efeito. Essa seria a esperança, pelo menos aquela que é deixada por algo controverso universalmente aceite (e não serei eu o único a achar algo de ainda mais controverso com esta frase). Não é que queira guardar durante muito tempo o suspense, afinal estou a falar da árvore que não estará crescida antes de eu ser adulto ou, na verdade, antes de morrer. Começando então pelo início, nada melhor do que recriar a criação com imagens caracteristicamente incaracterísticas e familiarmente únicas e, já agora, um pouco de violinos. Conseguido o primeiro objectivo de identificar o início do universo como algo um pouco moroso, mas com uma dicotomia espectacular entre espaço vazio e estrelas e nebulosas, passa à criação do nosso mundo (entendendo mundo como planeta e não mundo como espaço existente físico ou até, e quem diria, do pensamento). Esta criação também é morosa e primorosa no pormenor (mesmo que eu tenha quase a certeza absoluta que vi a mesma cascata duas vezes, ainda assim fica a certeza de que vi muita água). Mesmo assim, esta criação seria teoricamente muito mais rápida que a primeira, mas entendo que em perspectiva esta mereça ser mais apreciada que a criação universal. Depois uma citação bíblica e uma coisa que uma freira costumava dizer sobre a graça e a natureza, dois caminhos que podemos percorrer à nossa escolha. Então imagine-se a desgraça, a angústia de alguém que acredita numa figura divina e que confia nela para a proteger a quem acontece uma desgraça como perder um filho. E agradeço de facto a oportunidade de a imaginar quase inteiramente. Será esta a premissa: o questionamento e o caminho a seguir. Pondo as coisas em pratos limpos o pai do puto era a natureza e a mãe era a graça. Resumindo também a coisa ainda mais, o pai era um frustrado na sua vida e um pouco estrito com a educação dos filhos, no extremo de quase chegar à violência e a mãe, essa, às vezes até flutuava (juro). De qualquer maneira ela ficou um pouco chateada com Deus por causa da sua desgraça pessoal, mas o filme leva-nos para algo diferente, a maneira como foram educados os três irmãos durante a infância. Pois bem, o rapaz mais velho foi criado para ser o extremo da natureza, para poder controlar o seu futuro e ter enorme sucesso. Este rapaz, passado uns tempos, fica assim um pouco mais para o confuso e começa a ser mau e injusto com o dedo do irmão e uma janela. Não lhe sendo suficiente rouba um vestido de noite de uma tipa gira (até a associação de sexo com violência grita complexo, que afinal até era do Édipo). De qualquer maneira, mais tarde, ele torna-se naquilo que devia ser, um homem de sucesso, reparamos nisso pelo tamanho do edifício, o andar ser muito alto e ele andar num elevador muito moderno. Reparamos, também, que na realidade ele se tornou numa pessoa bastante soturna e triste, denotada pela cara de tristeza do rapaz que já era adulto. E devo premiar a selecção do Sean Penn para este papel, pois ele tem uma cara mesmo adequada para este efeito. De qualquer maneira ele anda na praia e passa uma porta e vai ter com a família dele e a mãe dá o filho dela a Deus, fazendo as pazes com Ele. E depois ainda vem outra vez a chama do zippo. No meio, ainda é de apreciar uma cena em que um dinossauro de características carnívoras é capaz de contrariar os seus instintos e ter misericórdia pelo pobre herbívoro moribundo. E ainda outra cena onde eu pensava que, crianças como eles eram, iam gozar com o andar de um deficiente, mas nem aí me deram esse prazer (e acho que é um pouco por aqui que este filme não chega aquilo a que tenta ser, a falta da ideia de que a existência humana é algo ridícula e muito efémera para as capacidades que consegue ter).


Vejam que esta não é uma versão sarcástica, mas mais construtiva que outra coisa. O sarcasmo corresponderia a dizer: “Perspectiva interessante esta, de facto, de fazer uma curta-metragem e depois contratar um fotógrafo para a transformar em longa. Além do pouco tempo que demora a mostrar que a morte de uma pessoa familiar deve ser aceite! Não quero imaginar o martírio que seria para ele se tentasse fazer um filme sobre o Holocausto.”

Chegando ao fim fica aquilo que é dito. E aqui reparo na insistência do realizador explicar a sua ideia, de a desdobrar e expor exaustivamente, entrecortando cenas, juntando planos variados e música. Tentando mostrar a criação, as maravilhas do mundo e, ao mesmo tempo, mostrando uma história pequena, muito pequena com ideias muito simples. Não seria algo ignóbil se não tentasse demonstrar aquilo que não tem, uma tese ou uma conjectura, uma ideia elaborada ou algum espaço para a ter. É apenas um disfarce disso mesmo. Este filme leva à conclusão final de dar o filho a Deus, aceitar o que nos é dado como é dado, sem nada mais mostrar para isso que fantásticas fotografias em movimento.Este filme é a tentativa de redimir Deus do mal que acontece no mundo. Dizer que faz tudo parte de algo maior. Além de ser uma ideia já badalada recuso-me a aceitar, quanto mais acreditar, numa figura divina que precise de ser redimida, especialmente por este filme. A ideia que o caminho da graça será o melhor a seguir é algo que vai contra a própria natureza humana. Esta ideia de aceitar o que nos é dado vai contra tudo o que naturalmente tentamos alcançar e, o que é ainda mais grave, vai contra todo o conhecimento. Não existe uma incompatibilidade da existência de Deus e o Darwinismo, mas existe uma incompatibilidade entre a graça e a grande capacidade do ser humano: a racionalidade e a busca incansável pelo conhecimento. Este filme renega toda a espécie de pensamento construtivo, a “natureza”, a medicina para vivermos mais tempo, a literatura para descobrir o mundo e o ser humano complexo, a física com a problemática da origem do universo. Além de ser algo anti-natural faz parte de uma mentira intelectual (mais que não seja a ele próprio). Uma que achei que seria muito mais fácil de vender a gente americana (In God We Trust), mas de quem já premiou Farenheit 9/11 já espero tudo (Como se pode dizer tão mal de uma mentira e depois acreditar noutra só porque diz o que nós queremos?). Em resumo, não é uma ideia completa, apenas um raciocínio incompleto que acaba desta maneira: Deus criou o universo demorando uns largos milhões de anos para depois nos criar a nós, que devemos seguir o caminho da graça e sermos inúteis durante a vida mas bons, para depois podermos ir para o céu e sermos ainda mais inúteis. De facto, espantoso…

PS1: Quero dizer, em adenda, que a desconstrução inteira desta narrativa não seria feita para a maioria dos filmes, pois muitos passam pela irrelevância de nem sequer merecerem esta perda de tempo. O filme para mim chumbou, mas merece que eu explique porquê, pois é uma ideação falhada mas que pelo menos tinha mais intenção de transmitir uma mensagem que a maioria do cinema actual. O filme não é confuso, nem sem sentido, é apenas uma falácia intelectual disfarçada como arte.

PS2: Outras partículas de pó que se devem estar a remexer são as que ficaram do cadáver de Kubrick. Especialmente com esta espécie de dicotomia com o 2001: Odisseia no Espaço. Ele indagou a origem do conhecimento e a natural curiosidade humana como razão existencial, este homem não fez mais que insultar esta perspectiva. 

PS3: Quero deixar a Malick um outro Salmo: “…no fundo, existiu apenas um único cristão, e esse morreu na cruz. …o “Reino de Deus” vem para julgar os seus inimigos… Mas assim tudo se torna um mal entendido: o “Reino de Deus” como um acto final, como promessa!” (Anticristo 39/40, Nietzsche).

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Moretti)


O Fim dos Gostos

Queria agraciar-vos hoje com uma pequena peça que mais virtude não tem que aquela de existir se não lhe derem a devida importância. Olhando para a capacidade de irritar que a moda de ser um e não se ser mais nenhum tem, isto devido à incapacidade de um perceber o outro a não ser pela fraca comunicação que todos os dias achamos significativa, muito para além das palavras mas apenas através delas. Diria que muito do que se passa pode ser apenas explicado por se saber que nenhum de nós sabe mais do que aquilo que conseguimos perceber, e se tudo o que percebemos é o nosso próprio ser, como poderemos agraciar outra maneira de ser? Bem, teremos de perceber que ser se pode de muitas maneiras para além da primeira, que será a nossa. Difícil conceito de atingir, pensar que reconhecimentos diferentes da realidade se fazem apenas por experimentação diferente e não diferentes sentidos. Será esta a razão responsável por todo o cérebro fechado em si mesmo ter tendência para por a sua existência acima das outras e considerar, então, o seu pensamento maior que tudo o resto. Consideração laboriosa que se encontra apenas entre a consciência da existência, do eu e do mundo, e a percepção de que qualquer ideia não poder passar de tudo aquilo que a forma. Este conceito básico permite perceber que tanto a maneira como se formula a própria, como o conhecimento prévio, a tornam mais ou menos válida. Dito tudo isto, parece que não há arte, muito menos a tão numericamente longínqua sétima. Ao mesmo tempo encontrei-a toda aqui, porque todos sabem que a arte é a expressão de cada um e não a colectiva, que o ser é único, que a percepção é única. Por isso serão tão variadas e interessantes as perspectivas. Por isso serão algumas tão geniais e outras tão nefandamente pobres que não merecem o direito de existir. Fascínio é algo que continuo a ter, quando, por muita opção que se dê, se continue a escolher o nefando sobre o resto, sem mais incriminação e consequência do que aquela de ter de aceitar e respeitar outra existência. Pois não será esta tão sábia como qualquer outra se consegue por um filme sobre um anão e um anel ao mesmo nível (ou superior) ao Caro Diario?


Passando toda esta linearidade básica de pensamento será legítimo perguntar o que fará sobressair algo acima do resto, quem possuirá o poder de decidir que isso aconteça. Não há resposta para além de Ninguém, e não fosse isto e o mundo seria tão mais simples. Poderá ser debatida, essa sim, a maneira como avaliamos algo. Incontornavelmente será por comparação, se dizemos que algo é bom haverá o mau que já reconhecemos e vice-versa (já versava o Vice). Quando algo se encontra no meio será apenas normal, ou palavra que para este fim foi encontrada: medíocre. Encontrando esta escala se acabam as semelhanças com a aritmética tão dada à lógica, pena perder sempre contra a humanidade devido à sua índole. A normalidade acompanha muitos que apenas são isso, bons são alguns e os maus parecem não ter fim. Passa sempre por aqui a minha incompreensão da obsessão da humanidade na normalidade. Luta muitas vezes a consciência por nos considerarmos algo especial e a vontade por sermos algo normal. Tudo isto passa pelo ser fechado em si, que vive apenas pelos outros. Diga também a verdade que a luta é esta, separar o bom do mau. Foi sempre mais ou menos essa a minha perspectiva. Não limitar a existência de algo a uma classificação, não lhe atribuir um estilo ou um movimento, considerá-la apenas como é, todos os outros artifícios só servem para entreter a quem faz da arte ciência. Por isso será para mim difícil dizer que tenho um tipo preferido de filme, já sabendo o que esperar e obter aquilo que pensava que iria ser põe em mim apenas o fardo da desilusão. Por isso também me custa perceber quem tem géneros favoritos de cinema ou qualquer outra coisa. Por isso acho bizarro alguém entrar numa sala de cinema, sair de lá com a confirmação daquilo que pensavam que iam ver e achar aquilo de alguma relevância possível com alguma inerência artística. O fenómeno actual é alguém esperar o normal e querer o normal. Tudo o resto pode ser giro, mas não se enquadra no espectacular. Se o que acabamos de ver é exactamente aquilo que pensava-mos que íamos ver não tem relevância absolutamente nenhuma, se a ideia já foi nossa não será nova, não consiste em nada de novo nem de surpreendente, é apenas normal e vai-se tornando cada vez pior à medida que a brincadeira se repete. Mais estranho ainda é as pessoas saírem de lá com a convicção suprema de lhe chamarem bom. Verdade é que as notas são inflacionadas, mas a minha dificuldade com o bom é já de origem conceptual, como se pode perceber. Muitas vezes encontro pessoas, pessoas especiais de índole normalizada, ou estendendo o latim, felizes por partilharem a mesma opinião com outra pessoa e serem especiais por isso mesmo. Elas muitas vezes me dizem para estender os meus horizontes e gostar de mais coisas, pois eu me declaro parvo e sem palavras.

Muitos não me ouvem, já por calo. Não é por mim, nem por serem muitas destas ideias algo de novo para elas. Descubro cada vez mais que as pessoas até são capazes de saber isto tudo mas não o querem pensar. Não as justificam como falsas ou as contra-argumentam, apenas vivem como se não existissem e odeiam que se refiram. Destaca-se principalmente esta ideia quando falo com alguém religioso (não entendam religião literalmente, mas como um princípio dogmático que faz de algo verdadeiro sem razão de ser), não querem saber de impossibilidades e contradições e tudo o mais. Não querem ouvir. Pois mais não direi. Mais seria dizer nada.


Toda esta léria só para dizer que quando digo que um filme é mau o faço sobre uma perspectiva que não é mais que pura lógica. Quando algo é medíocre é racionalmente que o digo, já não é uma questão de gosto, isso só serve para dividir as coisas que são boas. Antigamente havia a vergonha de não saber, havia referências do que era muito bom, sinais culturais que toda a gente sabia existirem e que maior parte não conseguia discutir. O bom desta perspectiva é que a existência de uma referência nos dava sempre algo para atingir. As pessoas iam ao cinema ver o filme que por lá passava, iam ver o último Godard e mais de metade adormecia a meio. Hoje vão em fila ver o último Harry Potter e dão o dinheiro como muito mais bem empregue do que ir ver o filme que ganhou o último festival de Cannes ou o último filme do Oliveira (bem, aí já era como atirá-lo ao lixo). Isso não é cinema, isso é onanismo com pipocas. Hoje em dia há livre acesso à cultura e, assim sendo, toda a gente é livre de pensar que a tem. Não se enganem, eu continuo a rondar o mundo como sempre fiz, não é que tenha ainda tocado em muito, nem a aspirante a intelectual devo chegar, mas há cada pessoa que faz cada confusão de conceitos. Há coisas que não se podem dizer, ou melhor, até podem, mas andam perto do nível de engano que é negar o holocausto.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Groucho)


O Clarinete de Woody Allen

Seguindo características maliciosas de gente que pensa que pensa e não pensa, analisando uma a uma as sequências de ideias que não enquadram dentro do que acho provável e possível, não existe para além da desorientação imensa uma linha definidora, um esboço que separe arte do que não o é. A afinidade intrínseca em utilizar um saco qualificador, a insistência em usar escalas, comparar e, mais do que nada, normalizar. Uma atitude cultural pouco saudável que não admite a existência de cultura. A falsa confiança transmitida por algum tipo de linguagem longínqua e comum, a participação deste ou daquele, o magnífico, sensacional, bizarro, genial da obra primorosamente prima. Óbvio que a ideia da idiossincrasia em círculo, os elogios dados a si próprios quando felicitam alguém por ter exactamente a mesma opinião ou similar, não passa de algo pobre e não gerador de nada novo. A ilusão da vida é uma ideia, uma ideia simples, a ideia de que se têm ideias novas e não já infinitamente repetidas. Ter uma ideia fora desta ideia já é um crime, existe o rótulo, a nova arma, és original mas não original como nós. Pois maior crime que este se levante.


Algo que fascina ainda é o esboço da qualidade no bom cinema. E diluindo a ideia em analogia, não passa de uma arte um pouco necrófaga, recolher o que já foi feito e tentar juntar tudo em apenas um movimento e um sentido. A tarefa será então juntar as características que o fazem transparecer como algo digno do nome de cinema. Começando pelo essencial, que será ter algo para fazer. No inicio será a história (ou o verbo), de uma maneira canónica dará a definição a tudo o que será o filme, não sendo este facto obrigatório ou sequer necessário à existência do mesmo. A sua origem (literária, factual ou escrita pelas mãos de um esquizofrénico que sempre recusou tratamento) passará sempre pela irrelevância histórica de existir. Não deixa de ser verdade que os irmão Marx nunca precisaram de mais que uma história. Sabendo até que não tem de existir no início, como pode existir apenas no fim, quando cada hino à estética se juntar em sequência formando “Fa Yeung Nin Wa”. Partindo daqui, e dizendo que a conclusão será ainda nenhuma, será a altura de concretizar a visão. Então serão precisos os adornos de sala, vêm por aí os actores, será das primeiras condicionantes. Não terei uma perspectiva muito favorável, a maioria dos melhores filmes que vi tem gente desta de que nunca ouvi falar ou que não toma esta como a sua profissão. Considerar classicamente um filme será sempre uma história em imagem, conceito que muito tentam deitar abaixo com pouco acerto. Aproximando a estrutura moderna a esta ideia acabamos na imagem, e com as muitas maneiras de a obtemos. Desde o conceito de teatro filmado de Manuel de Oliveira, ao conceito da filmagem em movimento de Kusturika e a câmara tremida de Trier no “Dancer In the Dark”, tudo é mais ou menos permitido e tudo é mais ou menos abusado. Não pensar na maneira mas na forma, não se espantar com a medida dos enormes recursos que hoje em dia existem mas conjecturar algo que se aproxime e se afaste de tudo o que já se demonstrou possível. Mesmo existindo a ideia de o cinema depender sempre de como é filmado, também pode existir o filme com fraca ideação fotográfica, ou com uma cena completamente monocromática e tornar-se em algo que se sobrepõe a este mesmo conceito. Em “Jour de Fête” Tati usou duas câmaras, uma a preto e branco (por precaução) e uma a cores. A verdade é que filmou os mesmos planos com as duas, mas depois de pensar o filme a cores e depois de saber que o estúdio não tinha dinheiro para editar o filme a cores lançou a versão a preto e branco. Não foi por estes subterfúgios, pela forma não atingir a qualidade do conteúdo que o filme passou por irrelevante. Na realidade ele nunca ficou contente com esta versão, filmou novas cenas e coloriu ele mesmo certas partes do filme à mão (versão que é hoje a mais conhecida). Entramos então na música que acompanha a imagem, sendo que muito raramente será feita pelos próprios realizadores (o Woody Allen fê-lo em “Sweet and Lowdown”), mesmo que sejam músicos. Até Kusturika em pose Rockerman da música popular jugoslava prefere utilizar as músicas de Goran Bregovic, e ainda bem. Indagar no mundo imenso da música e escolher o melhor para determinado momento, imagem, sentimento, será uma das coisas que muitas vezes fica um pouco à quem do esperado. Mais uma vez devido à materialização da imaginação humana ser sempre uma replica relativa a quem a fez e não aos outros ou, ainda, à própria ignorância. Se bem que a realidade permita que o filme não imita um som e continue a ser a obra que é, sendo que até prefiro alguns filmes mudos sem um único som. E esperando que ainda não haja cheiros nem texturas, serão, em versões distintas e muito latas, estas as formas usadas por todos e com que tanto se tenta inventar.

               
Saber, sei que a mesma obra pode ser executada de novo, distinguindo-se da primeira com superioridade exacerbante, quem já tocou o céu com a “Hallelujah” de Jeff Buckley sabe disso. A execução excepcional também constrói um novo conceito, que ainda não tinha sido alcançado, o mesmo acontece com um excelente realizador e um fraco argumento. Não percebo é este novo conceito de ter directores de fotografia, de som, de efeitos sonoros, de maquilhagem e vestuário, de ter compositores e editores de imagem, editores de som, argumentistas e produtores. O realizador já se marginalizou a si mesmo para ser o banana que diz alguma coisa de vez em quando, abençoada forma de esconder a própria mediocridade, abençoada maneira de termos excelentemente executado sempre o mesmo filme. O que o irá distinguir será a visão e o conceito novo que sem a obsessão de controlar cada detalhe não poderá existir (regra que como todas as outras terá as suas excepções, não fosse a única coisa que interessa o resultado final). Conclusão não se chega a nenhuma, um filme não se distingue por ser bom em cada uma das suas formas, mas pelas ideias que o compõe, se existem de novo ou já foram e as conjuram de nova maneira. Por isso tenho a minha dificuldade em separar filmes em escolas e movimentos e todos os subterfúgios classificatórios, não passam de algo detractor de algo que é único individual, e com alguma esperança original. O problema é que as ideias são pessoais, não são colectivas, isso simplesmente não existe.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Stallone)

A Infância de Ivan


Às vezes penso como é possível uma senhora bastante adiposa poder usar as nádegas como orelhas de martelo. Deve ser por isso que frequentemente tenho pesadelos ao som de Goran Bregovic. Não são exactamente pesadelos, até porque a música não é má. Mas chegam a ser saturantes e cansativos. Acordo sempre cansado depois dessas noites, a pensar quando é que os porcos vão deixar de comer o carro. As imagens do meu sonho são sempre com as mesmas cenas, excepto algumas delas, que são cedidas pela memória. O último teve direito a cenas da minha infância. Quando tinha oito anos, mais ano menos ano, na altura do carnaval, disfarcei-me de Rambo. Mais especificamente de Rambo II porque tinha aquela cicatriz queimada mesmo em frente à orelha. Quando se tem esta idade não deve haver nada melhor do que andar por aí de metralhadora a matar tudo sem sequer apontar. Ou então ser um daqueles robôs gigantes como o Robocop ou o tipo que não devia conseguir mexer os olhos (porque quando lhe desfazem a cara aquela cena vermelha não se mexe). Digo isto porque hoje, quando me lembro destes momentos, penso em como é uma imbecilidade completa uma criança andar por aí a pensar que dar tiros nuns tipos é ser um herói. Também ninguém se lembrou de me vestir de Dadan


Eu via o Rambo como um herói porque ele matava os maus todos. Claro está que naquela altura eu pensava que todos os maus nasciam de geração espontânea, porque ninguém que tivesse mãe e pai podia ser tão mau como eles. Alguém que podia ter filhos não podia ser tão mau. Claro que quando me disseram a verdade, que isso da geração espontânea nem o Jesus Cristo, eu pensei “Fónix (porque naquela altura até tinha medo de pensar noutras palavras) Rambo, só para salvar um? Tudo bem que ele é americano e vale aí por uns dez, mas porra Rambo!”, não se faz isto a uma criança, desiludi-la assim. Foi por esta altura que descobri que o Rambo era um idiota, e ainda bem. Lembro-me de ser ainda criança e ver o “Monty Python and the Holy Grail”. Foi também por esta altura, a ver como estes homens ingleses gozavam com tudo o que existia e retratavam a humanidade como algo profundamente estúpido que me dei conta que não era apenas o Rambo o idiota. Comecei a pensar em tudo aquilo que eu via nos filmes e adorava: a eterna luta contra o mal, salvar o mundo do apocalipse (que, por esta altura, devia ser para mim o melhor tema para filme alguma vez inventado), andar aos tiros durante meia hora, ser o herói e ficar com a gaja toda boa… Tudo o que já tinha visto e revisto e repetido até ao infinito. E estas coisas, que eu considerava algo como uma realidade ideal não passavam de algo parecido ao menino da lágrima que estava pendurado na sala da minha avó. Mais tarde vim a descobrir o galicismo cliché, mas o conceito continuava igual. Este conceito veio-me à ideia no tempo em que andava a escrever muitos “a”s no meu caderno do primeiro ano, para aperfeiçoar a minha letra (que ainda hoje continua ilegível). Eu gostava de mostrar aquilo ao meu pai que, como é natural, não lhe ligava nenhuma, e eu descobri porquê. Quem é que iria ligar a um bando de letras repetidas até à exaustão? Claro que é bom para aprenderes a fazer, mas daí a quereres mostrar aquilo a toda a gente. Aquilo não tinha valor nenhum porque já tinha sido feito milhares de vezes antes de mim e ia continuar a ser feito, e se mudasse da caneta azul para a caneta preta não ia mudar nada. Foi aí que pensei, e se fossem os “a”s do Van Gogh? Bem, aí de certeza que alguém iria comprar aquela treta a peso de ouro ou platina. E era por serem mais bonitos que os meus? Muito provavelmente eram, mas era mesmo por serem do Van Gogh. Não eram os mais bonitos “a”s, mas eram dele e se eu fizesse o Céu Estrelado ninguém daria também tanto dinheiro por ele. Mas ninguém pode culpar o coitado, afinal, e mesmo sendo criança, achava os quadros dele de uma beleza extraordinária.


Tudo bem, mas o Rambo continua a matar tipos sem apontar e a dizer aquelas coisas todas heróicas, muito ao estilo do “Hasta la vista, baby!”. O conceito, pelo menos esse, era igual, o tipo musculado que queria salvar uma pessoa, mas ao menos um deles evitou o apocalipse, ou nem por isso. Os tiros, as explosões, as espadas de luz, os cowboys, o fim do mundo, a humanidade a estragar a natureza dos índios americanos ou do planeta dos índios azuis, o robô do futuro que parte tudo, a gaja boa e o herói que sofre, os dinaussauros vivos de novo, a Angelina Jolie em cima de um tronco… É tudo incrível ao estilo do Rambo, mas daí a serem o Céu Estrelado vai muito. Não têm nem de perto nem de longe o mesmo valor. Daí a minha estranheza quando descobri que afinal o cinema é uma arte, e que podia ter algo de novo, extraordinário e brilhante. E anda esta gente a fazer a mesma coisa até à exaustão como eu fazia os “a”s. Vim a descobrir aos poucos o verdadeiro cinema, algo que sentado no meu sofá podia denominar “cinema” como uma forma de arte. Podem ver e adorar os outros filmes e, se o fazem e os consideram bons, podem falar de cinema, mas agora de bom cinema não. Por favor…

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Hooper)


Coitado do Sr. Wilde

Esta é uma crónica dedicada ao cinema e, por essa razão se torna um bocado degradante falar deste tema. Agora que o tema já passou de moda e já ninguém fala disto, tem um que de mais interessante voltar à carga com ele. Eu sei que esta é uma crónica sobre a 7ª arte, mas nesta semana vou falar de algo que não lhe esta muito ligado: os Óscars. E vocês perguntam, ou então pergunta o meu amigo imaginário se vocês não tiverem vontade de perguntar: e qual é o teu problema com os Óscars? Absolutamente nenhum, porque não lhes reconheço a mínima autoridade para avaliar seja o que for no mundo da arte de fazer cinema. Mas, se calhar, só para fins recreativos, vou reconstruir a minha experiência dos últimos Óscars. Em primeiro quero só dizer que como já tinha em perspectiva vir a falar disto e, como queria ver este acontecimento no seu pleno esplendor, comecei por ver aquilo que traduzido directamente do inglês se denomina “o tapete vermelho” num canal perdido algures e do qual já não me lembro do nome.

Então havia um gajo de cabelo em pé, que entrevistava uns tipos que aparecem nuns filmes quaisquer, uma anã e uma gaja maquilhada de vermelho que comentam o que as pessoas vestem. Pessoas estas subqualificadas para sem-abrigo. Desfilam então as senhoras e os senhores que muito entretêm o povo e por isso lhes devemos tanto. Como eu gosto de os ver falar, parece que não mas são pessoas que ainda têm muito que dizer e não só sobre o que vestem mas também para brincar com o apresentador e dizerem que estão muito excitadas (talvez a ordem em que disse isto não seja a mais indicada). Alguns destes personagens ainda, e veja-se a ousadia, dizem olá à anã (pensando certamente que ela era patrocinada pelo “Make a Wish Foundation”, sempre generosos estes homens de bem). Uns poucos deles não fizeram nenhum filme este ano, mas já são conhecidos pela sua boa obra de entretenimento (familiar ou não). Aparece o Steven Spielberg, enjoo e mudo de canal. Agora era a vez da TVI e dos seus eruditos comentadores. Um pouco mais de pessoas numa carpete e uma mulher preta maquilhada de laranja. O Steven Spielberg outra vez, aqui fechei os olhos e disse três vezes o nome dele ao contrário para o fazer desaparecer. A mulher laranja disse ao Inglês que ia apresentar os filmes que a cerimónia estava quase a começar, pois bem, fiquei mais descansado, “a pior parte já acabou” disse eu de mim para mim. De erros está feita a vida ou dito similar. Desfilam as piadas quase politicamente incorrectas, dão estátuas pequenas e douradas a algumas pessoas, elas agradecem, mais ou menos entusiasmadas, num tempo limite. Vim aos poucos a descobrir o quão brincalhões são estes homens. Além de todas as categorias terem a palavra “melhor” por trás, dão prémios a coisas como maquilhagem e edição de som e ainda mistura de som e sabendo que entre os membros da academia (que são afinal as pessoas que escolhem) estão personagens tão intelectualmente dotadas como Will Smith e Bruce Springsteen, sobre os quais me custa acreditar que sabem o que são ou que sequer as consigam distinguir, só me apetece abrir uma categoria chamada “melhor maior idiota que acha que escolhe o que de melhor se fez no cinema no último ano” ou alguma coisa mais curta. Pelo meio ainda houve um velho engraçado, uma rapariga que quando a vejo num filme (nua ou não) fujo, um travesti que mais mão menos mão já o vi em qualquer lado, actores (muitos… e diga-se que também foi uma experiencia muito educativa, fiquei a saber o nome de muitos deles), directores e depois o resto-lho como escritores de guiões, produtores, tipos que fazem música (que têm muita sorte de os deixarem entrar e estar no meio de tais personalidades)… E parece que me esqueci de algo. Parece que premiavam filmes por lá, mas não fiquem espantados, muita gente gostava de ter um careca amarelo em miniatura em casa. Não me parece é que sejam grande indicativo de qualidade. Mas para isso tinha de falar dos filmes e não sei se está bem no espírito da noite falar deles ou continuar a fazer umas graçolas.

Bem, vou fazer uma curta adenda aos filmes. Primeiro queria manifestar a minha vontade de dar uma bofetada a quem escolheu a melhor mistura de som e melhor edição de som e elogiar todos os membros da academia que em esforço hercúleo conseguiram diferenciar as categorias. Para mim, e não sei se para mais alguém, o bom uso do som é também o bom uso do silêncio e Inception era um filme que não tinha um único momento de silêncio, era sempre saturado de uma banda sonora com excessivos violinos e vibratos nos supostos silêncios. Este filme não se calava um único segundo e é esta a melhor edição de som? Uma bela alternativa a Hollywood, não andam aos tiros na vida real, só o fazem em sonhos.

Em segundo queria falar dos dois concorrentes principais: “The King’s Speech” e “The Social Network”. Vi os dois com pouca vontade, mas para quem já viu a Pocahontas versão azul (“Avatar” para os mais esquecidos), qualquer coisa é visionável. “The Social Network” é um pequeno filme que se anuncia como algo novo e que quer quebra os cânones do cinema de Hollywood e se é preciso tão pouco para o fazer vou ali mas nem sequer volto. Não é um filme que eu chame de muito mau, mas tem tudo aquilo que me incomoda. Tem um cliché sobre um génio (têm todos de parecer autistas anti-sociais), que consegue fazer tudo com um computador, só faltava o gajo infiltrar-se no sistema informático de pentágono e começar a mandar uns mísseis (ele pode ser muito esperto mas de certeza que era um pouco mais lento a fazer certas coisas). Uma história que tenta representar um geração mas só consegue perpetuar preconceitos sobre ela, porque toda a nossa geração é devassa, especialmente as mulheres que agora se despem em todo o lado menos o quarto, sexo e drogas e pena não ter ouvido Rock’n’Roll (parecia a certos momentos um filme feito por uma pessoa idosa assustada pelo mundo moderno e os computadores). Foi um filme que eu consegui ver sem o odiar e que parecia ter intenções dizer muita coisa, mas deixou-me completamente indiferente no fim. “The King’s Speech” é doloroso de ver, muito doloroso. É uma epidemia daquilo que eu acho que esta errado no cinema e como não me quero repetir é apenas isto que vou dizer.

Depois havia ainda o Black Swan, que era a tentativa hollywoodesca de fazer um filme conceptual. Mas com medo de as pessoas não perceberem o filme puseram um tipo a contar a história do “Lago dos Cisnes” sem grandes artifícios de argumento. Era um filme que poderia funcionar se fosse a preto e branco (a parte da discoteca podia ser a cores mas monocromáticas), mudo e durasse meia hora.

Havia lá filmes que não eram maus de todo. Havia lá até a pérola de Inãrritu (mas não a vou querer misturar com estes). Mesmo assim parece-me um insulto a academia achar que esta a fazer um grande favor ao filme só por estar nomeado a duas categorias e ser falado em espanhol. Havia “127 Hours” que é um filme bem conseguido, mas que para mim sobrevive apenas do fim, e o fim só é o que é por causa da música dos Sigur Rós (acho que se este filme tivesse ganho um Óscar devia ir para eles), se bem que Boyle exagerou o bastante com a cena em que o maneta está a nadar, já percebi ele está livre da pedra para sempre e finalmente pode viver a sua vida como nunca a viveu mas sempre a quis viver, que grande lição de vida. Havia também “The Fighter” que está filmado com um bom estilo, boas interpretações, bastante cru e com uma boa camada de ironia e que eu tive muita esperança que não acabasse numa cena de luta apoteótica. Acabou por se tornar numa versão intelectual do “Rocky”.


Sei que ainda faltam alguns filmes e com pena minha ainda não consegui ver o “True Grit” ou o “Blue Valentine” e não posso falar deles, mas o que eu quero dizer é que mesmo estes filmes, que eram uma suposta alternativa cinéfila não passam de estar entre o medíocre e o razoável. E é isto que para mim representam os Óscars, uma bando de personagens que acha que percebe de cinema e que tem sorte quando premeia algo que consegue chegar à categoria de medíocre e chamar-lhe “melhor”.

PS: Mas quem são estes idiotas para separar melhor filme de melhor filme estrangeiro (e entenda-se estrangeiro por filmes que não estão em língua inglesa)? Será que por acaso acham que algo que não seja feito por lá não consegue chegar ao seu nível? É apenas um segredo que não gosto de confiar a muitas pessoa mas eu acho que é ao contrário.

terça-feira, 8 de março de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Rowling)


A Sede do Mal

Foi neste momento, às três da manha, a fumar um cigarro, ouvindo o Oh What a World! do Rufus Wainwright ao mesmo tempo que olhava para a cara de parvo do Marco Horácio dissolvida pelo fumo, que me apercebi do que era o cinema. Apenas um somatório de luz, som, imagem e a história que compõe. Todas as formas de arte vêm apenas do imaginário, uma aproximação à realidade única de cada um. O essencial então seria a existência de algo nela, entenda-se na arte, que estivesse a alimentar aquela parte não comum e que nunca conseguiríamos alcançar sem ela. Claro que, pensando na questão dos famigerados gostos, cada um tenta alcançar aquilo que lhe é mais atraente, sendo isto muito ajudado pelo significado que damos a cada coisa. Quanto mais de nós conseguirmos enfiar no que gostarmos, quanto mais conseguirmos juntar do nosso imaginário e fantástico pessoal, melhor. Esta é a suprema dificuldade do cinema, superar a nossa própria imaginação em quase todas as suas componentes, mas claro que isso depende muito da imaginação de cada um.


Aqui olhei para o meu amigo imaginário. Estava à minha frente, sentado com as pernas cruzadas. Parecia que ouvia o que eu pensava, apesar de não ter orelhas, às vezes também falava para mim, mas também não tinha boca. Na realidade nem sequer tinha cara, a minha imaginação não chegava para tanto.

­– É essa a magia do cinema? Superar a imaginação de cada um, existir para além daquilo que pensamos existir? – Enquanto dizia isto, o meu amigo imaginário esboçava um sorriso sem lábios.

– A magia do cinema é o que sai do pau do Daniel Radcliffe.

Aqui usei as minhas rugas de expressão que uso quando fico ligeiramente irritado. Quase me apeteceu deixar de imaginar, não fosse a minha vontade imensa de sempre discutir.

– É essa a razão de tanta gente gostar desse filme? O facto de não haver esforço? O esforço de ter que pensar e o esforço que o personagem principal não tem que fazer… A magia reduzida a não ter que saber nada para fazer seja o que for… É disso que as pessoas gostam?

– Não, as pessoas gostam do que sai da ponta do pau do Daniel Radcliffe.

– Vai-te lixar, estou farto de pessoas que só sabem provocar e criticar!

Vou ver o “Touch of Evil” do Welles. A ver se acalmo o meu espírito martirizado.


Assim sim, uma bela cena num contínuo take, 4 minutos de extraordinária mestria. Aparece uma bomba depositada num carro, depois o Charlton Heston a fazer de mexicano, a sua mais que tudo não mexicana a andar na rua e ainda um vendedor de rua. A certo momento parece que até atravessam a fronteira e momentos depois explode o carro. Ah, um filme Noir de Welles, nem mais… E não é que aparece o próprio Welles? Gordo e manco, um polícia à moda antiga. A intriga parece instalar-se bem, o Heston é um polícia mexicano de renome que por acaso assistiu ao acidente que decorreu do lado Americano da fronteira. O Welles não gosta do Heston porque veio meter o bedelho onde não manda, só que toda a gente lhe diz que tem de tratar bem o Heston porque é bonito e ele é feio, ou razão parecida. O Welles vai logo meter o bedelho em todo o lado e mais algum no México. Atiram ácido ao Heston e depois descobre-se que a perna manca do Welles lhe diz quem é o criminoso. Identificado o criminoso correm todos para a casa do tipo.

– E é esse o Voldemort?

Parece que não é ele, o homem marcado pelo instinto da perna do polícia fala como um maricas atrapalhado, mas não deve ser culpado. Momentos depois encontram provas na casa do criminoso, o Heston fareja logo que aquilo foi incriminação do Welles.

– Então é esse o Voldemort?

Não sei se é mesmo incriminação, mas agora parece. Então, enquanto o Heston investiga os casos corruptamente resolvidos do polícia manco, um bando de mafiosos mexicanos irrita a mulher não mexicana do Heston. O Welles fica deprimido por causa da sua reputação prestes a ser manchada e começa a beber a convite de um idiota mafioso mexicano, o coitado do manco era alcoólico. A bela mulher não mexicana é raptada e aqui percebemos que há marosca do Welles porque ele surge a falar com o chefe mafioso mexicano. Este chefe é o bandido estúpido de serviço no filme. Então o Welles mata-o, não sei se é por ser o tipo mais estúpido do filme e o Welles realizador não o querer mais por lá. Se foi por isso merecia. De seguida, o Welles incrimina a mulher do Heston por abuso de drogas, mas ela não é formalmente acusada de nada, era só para manchar a reputação do Heston e ilibar-se a ele próprio.

– Então sempre é ele o Voldemort… Sabes que estes filmes armados em intelectual são iguais aos outros, com mais ou menos jeito na arte.

O Heston decide limpar o nome e tenta arranjar uma gravação onde o Welles confesse. A cena acaba com o Welles morto, o amigo do Welles morto e o Heston todo contente com a não mexicana. Depois surge o procurador que diz que afinal o gajo que o Welles incriminou era culpado e que ele só plantava provas quando não as havia. E aparece a Marlene Dietrich a dizer qualquer coisa espectacular…

Parece que o homem afinal não era tão mau, bêbado é que não era assim tão espectacular. O Welles era, afinal, um polícia que sempre trabalhou para o mesmo que o Heston.

– Então o Heston só arranjou com que matassem o tipo que prendia os maus da fita? Então quem raio era o Voldemort?

– Ó Imaginário, parece que não era nenhum, ora f…

PS: Só quero expressar a minha tremenda admiração por Welles e este filme, e que este texto não representa uma crítica ao mesmo, porque me acredito incapaz de fazer uma. Em segunda nota só queria corrigir a errata do último mês em que disse que o Yi-Yi era um filme Japonês. É que afinal foi feito em Taiwan, e o realizador também é de lá, e como o filme não foi feito no tempo das suásticas inclinadas, na realidade é chinês. Podia ter percebido isso no filme porque toda a gente falava Mandarim, mas o meu Mandarim não é muito fluente. Peço-vos para da próxima vez não terem vergonha e que, por favor, me corrijam prontamente.  

sábado, 29 de janeiro de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Tom Cruise)


“Mel Gibson Está Morto” dizia Zaratrustra

A primeira coisa que ocorreu à primeira pessoa a quem mostrei a minha primeira crónica por vontade própria, foi dizer-me: e o que é que há de novo?  Nada além daquilo que sempre foi evidente para mim. Quase tudo o que é feito no Mundo cinemático ou não é mau, e contra toda a razão, quase todas as pessoas gostam do que é mau. E como estou farto de falar sobre isso, este mês está “Um Tempo Para Cavalos Bêbados” (ou “Zamani Barayé Masti Asbha”), mas já ninguém liga ao bom cinema iraniano. O que eu queria dizer era que vou falar do que me der primeiro na minha real revolta contra o mundo do cinema, não fosse esta a morte dessa arte.


Pois aqui vai, sem grandes rodeios e creio que sem grandes surpresas, um dos princípios mais errados que existe no mundo do cinema, a adoração dos actores. Como é evidente a maioria dos actores são um bando de idiotas abastados e egomaniacos. Aos que se revoltaram já nesta frase, pensem só no seguinte: Shiloh Jolie-Pitt, e eu que tanto queria fazer um bonito jogo de palavras, mas a coisa chega a ser tão metafísica para mim que eu não me creio capaz de realizar qualquer tipo de gozo sobre isto, de qualquer maneira faz-me lembrar a marca de chinelos da minha avó. Sendo sincero, se visse este nome num romance burlesco qualquer teria a sensação de ser demasiado forçado e irrealista para nomear fosse o que fosse, chinelo ou não. E estes homens e mulheres acham-se no pleno direito de escolher filmes, alterar argumentos, dar nomes risíveis a meninos do terceiro mundo e, veja-se a enorme ousadia, formar opinião pública. E vocês dizem que estou a exagerar, que escolhi logo duas personagens que devem ter, entre os dois, um filme e meio aguentáveis. Digo-vos com toda a sinceridade que podia ter escolhido pior, neste mundo de cientologistas sem expressão facial, fantasias adolescentes vampirescas, 20 a 22 James Bonds, actrizes meritórias pelas suas excelentes glândulas mamárias, sex symbols quinquagenários, homens de acção de boca torta, homens de acção de boca direita mas que mesmo assim não sabem falar e que agora até são governadores… Como poderia eu ousar dizer menos desta gente? Revolto-me contra qualquer pessoa que esteja sempre a avaliar performances, dizer que este ou aquele papel foi brilhante, a interpretação genial e mais o que for… Os actores não passam dos bonecos animados que estão à frente da câmara, banais e sem personalidade (se aspirarem a ser bons actores). Não podem passar disso. Já se perdeu a ideia do que é um bom filme, um bom argumento, uns bons planos, uma boa montagem. Já ninguém quer saber do homem que escreve ou faz, de todos os blogs de cinema que vejo, tantos falam extensamente do Harrison Ford e do Keanu Reeves, fazem-lhes resumos de carreira, melhores momentos, filmes marcantes, um pedestal infindável de dados fascinantes sobre a irrelevância absoluta. E o Phillip K. Dick? O homem cujos contos deram origem a inúmeros argumentos de filmes? Nunca vi uma palavra escrita sobre o homem. Ele podia não fazer filmes, podia não ser bonito nem fazer cenas de sexo no grande ecrã mas as histórias dele sempre foram qualquer coisa de brilhante. Não seria muito mais interessante escrever sobre uma pessoa genial? Não seria de maior valor fazer retrospectivas sobre personagens tão marcantes como George Gershwin? Ninguém quer saber do Óscar para melhor argumento original, mas toda a gente sabe quem ganhou melhor actor, melhor actriz, melhor actor secundário, melhor actriz secundária e até melhores efeitos especiais (e desde já, e desculpando-me pelo aparte, quero agradecer à academia dos Óscares por seleccionar os filmes que não devo ver).


A sobrevalorização desta gente, a importância que se lhes dá é algo de muito perigoso. Não podem ser estas as referências do mundo moderno. Estas pessoas tornaram popular a hipocrisia de ter pena pelos pobres e ganhar dinheiro à custa deles.  Houve até uns tempos em que a coisa mais cool do mundo era dizer mal do Presidente Bush na televisão, chegaram até a fazer música sobre isso, a coisa tomou tal dimensão que agora tomamos isso como verdade absoluta. Independentemente de o homem ser uma besta ou não, eu não quero que seja esta gente a definir isso. Quero ainda menos que eles se achem capazes de dizer seja o que for sobre isso. Eu não vou ao cinema ver estes personagens, se bem que alguns deles me façam ficar um pouco como no “Die Geschichte vom weinenden Kamel” ou melhor dizendo “A História do Camelo que Chora”, mas também já ninguém liga ao bom cinema alemão sobre mongóis. Alguns deles atacam de facto a minha sensibilidade, em alianças conjuradas no inferno, que até dão vontade ao Orson Wells, já na cova, de nunca ter feito brincadeiras na rádio. Alguns deles chegam a pensar que são tão bons que até fazem filmes gore com Jesus Cristo. O que não deixa de ter a sua piada, Nietzsche disse que Deus estava morto, este homem matou-o.


Não quero dizer de maneira nenhuma que não haja actores bons e maus, não devem é ser tomados para além da sua normal relevância. Olhando para aquele que eu acho uma referência na interpretação de personagens, o grande Petter Sellers, ele era conhecido por ser um homem sem personalidade, ele era apenas as personagens que interpretava. Os actores são isso, o último grau da arte, o último instrumento necessário, nada mais. Não são os homens das ideias, não são os homens que compõem, não são essencialmente sequer os homens que decidem o que eles próprios devem fazer, nem sequer isso lhes compete. Não digo para não falarem dos homens e mulheres que vêm nos filmes, mas se quiserem ter o mínimo de coerência e forem verdadeiros apreciadores da arte, existe uma lista extensa de ilustres desconhecidos que têm muito mais lugar na história. E agora vou ver de novo “Yi Yi” ou “um um”, pena já ninguém ligar ao bom cinema japonês…